quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mulheres pilotos!!!

Tradicionalmente, o automobilismo é um esporte masculino. A única mulher que conseguiu pontuar na categoria topo, a Fórmula 1, foi a italiana Lella Lombardi, quinta colocada em uma prova na década de 1970. Mas, no ano passado, a norte-americana Danica Patrick estreou na IRL, ex-Fórmula Indy, fazendo pole position (em Kentucky, EUA) e pontuando por duas vezes, ambas em quarto lugar. A pequena - e bela - Danica tornou-se uma celebridade e o piloto mais popular da Indy, fato que colocou as mulheres em evidência no mundo dos esportes motor.
Aqui no Brasil, Sheren Bueno(foto), Bia, Débora e Helena lutam para conquistar seu espaço entre os homens, mas já sentiram o preconceito na pele. Débora Rodrigues só conseguiu ingressar na Fórmula Truck por meio de ação judicial. Isto foi em 1998, e até hoje ela está firme na competição. Helena Deyama, piloto de rally, - atua no campeonato brasileiro de Cross Country - admite que quando começou a correr, em 1995, os homens achavam que ela atrapalharia, por não conseguir transpor obstáculos da prova. "Mas eu venci na minha prova de estréia, o Raid da Primavera", conta. "Depois disso, eles passaram a me respeitar".
Ser mulher para elas não é problema, é solução. Embora concordem com a criação de uma categoria de automobilismo feminina, idéia defendida por mais entusiasmo por Débora e Helena, elas gostam mesmo é de enfrentar os "machos". "Prefiro correr no meio dos homens, que são mais loucos e arrojados. Vencendo eles, eu me sinto superior", diz Bia, que estreou na Fórmula 3 Sul-Americana, pela equipe Cesário Formula. Até 2005, ela disputava a Fórmula Renault.

Apesar do treinamento diário efetuado pelas garotas, elas admitem que o homem sai na frente quando o assunto é força e arrojo. "Muitas podem ficar bravas com o que vou dizer, mas mulher é diferente sim", afirma Débora. "Não somos tão arrojadas quanto eles". Bia concorda, mas ressalta que é mais técnica e cuidadosa que seus companheiros. "Eu sei exatamente o que estou fazendo, embora não tenha sangue tão frio quanto gostaria", diz a jovem piloto.
Ambas concordam que o arrojo masculino, em alguns casos, pode causar problemas para os próprios. "Às vezes, eles se excedem, e é aí que entra nossa inteligência", diz Débora. Mas, no duelo para valer, é difícil uma mulher vencer no automobilismo. Para Sheren, piloto do pace-truck da Fórmula Truck, isto se explica pelo fato deles serem maioria no esporte. Opinião compartilhada por Flávio Gomes, jornalista que atua há mais de 20 anos na cobertura da Fórmula 1, como diretor da agência especializada Warm Up e comentarista do canal por assinatura ESPN.
Das quatro meninas, Bia e Helena obtiveram os melhores resultados. No ano passado, a estudante de administração de empresas conseguiu o terceiro lugar na classificação geral da Fórmula Renault, vencendo três corridas. Helena, que em 11 anos de carreira (seis no rally profissional) conquistou muitas vitórias, destaca seu desempenho na edição 2001 do Rally dos Sertões, prova da qual participou seis vezes. "Fui vice-campeã em minha categoria, a Marathon", diz.
Chegar à Fórmula 1 é um sonho para qualquer piloto profissional e uma realidade para poucos. "Além de restrita, é uma categoria tradicionalmente masculina", afirma Flávio Gomes. Mas as dificuldades não intimidam Bia Figueiredo. Depois de completar a temporada da Fórmula 3 Sul Americana, ela passou a competir na Europa. Na categoria da América do Sul, ela terá a possibilidade de treinar pelo menos uma vez por mês, o que não acontecia na Fórmula Renault.
Não chegar à Fórmula 1 seria uma grande frustração. "O automobilismo é uma prioridade em minha vida e eu não me vejo fazendo outra coisa no futuro", diz Débora. E a carreira da menina não fica devendo a de nenhum piloto masculino. Ela começou a correr de kart aos 8 anos, sem influência da família, que não tem nenhuma ligação no esporte. "Quando criança, eu gostava de acordar domingo de manhã para ver o (Ayrton) Senna". Depois do kart, disputou três temporadas de Fórmula Renault.
"O problema da Bia é que ela não é um piloto excepcional, o que não tem nada a ver com o fato de ser mulher", afirma Flávio Gomes. "Isto pode até repercutir a favor dela. A Bia é bonita e, se tiver um trabalho de marketing bem feito, pode conseguir correr na Fórmula 1", diz o jornalista. Helena também espera uma carreira internacional, de preferência no Mundial de Cross Country e Rally Dakar. "Abriria mão de minha outra profissão, designer gráfica, pelo automobilismo, que é a coisa mais importante da minha vida", conta ela.
Os objetivos de Débora e Sheren, são, digamos, mais humildes que os de Bia. A primeira, quer continuar correndo na Fórmula Truck e, no futuro, ser empresária de pilotos. Já Sheren precisa, antes de tudo, iniciar sua carreira em uma competição. Filha do piloto de F-Truck Diumar Bueno, ela quer participar da própria categoria. Para isso, busca patrocínios. Mas não descarta a hipótese de competir profissionalmente em outras modalidades do automobilismo nacional.
Vida de piloto profissional não é fácil: são horas de treinos, compromissos constantes com patrocinadores, reuniões com chefes de equipes. Não sobra muito tempo na agenda destes "craques" da velocidade. Para uma mulher, conciliar as tarefas cotidianas com automobilismo é ainda mais complicado. Na Fórmula Truck, não há treinos, mas mesmo assim Débora gasta boa tarde de seu tempo com patrocinadores e equipes. Ainda assim, a esposa do também piloto Renato Martins consegue criar seus filhos, seus animais de estimação, gerenciar sua loja de rações e, ainda, apresentar o programa "Siga Bem Caminhoneiro", no SBT.
Beatriz Figueiredo: "O programa exige cuidado especial com a aparência, por isso tenho que passar algum tempo em salões de beleza", afirma. Academia, só para melhorar a resistência física. "Não gosto de musculação". Sheren também é apresentadora: ela está a frente do Autos & Cia, transmitido pela Rede 21, de Curitiba. Formada em Publicidade e Propaganda, assumiu o departamento de marketing da equipe do pai na Fórmula Truck. Treinos diários para aprimorar resistência e musculatura fazem parte da rotina da paranaense.
Bia freqüenta faculdade de administração de empresas. Após as aulas, trabalha no escritório de seu empresário, o ex-piloto André Ribeiro. Além disso, como boa parte das meninas de sua idade, freqüenta aulas de francês e academia. E espera ainda ter tempo para formar uma família. "Eu já pensei e planejei isso. Com trinta anos, acho que já estarei na Fórmula 1. Mas aí, vou ter que parar, pois não posso praticar um esporte de risco estando grávida". Segundo a piloto, esta é uma inegável vantagem do homem no automobilismo. "Eles não precisam se afastar das pistas porque a esposa está grávida".
Helena também já pensou em família, mas admite que abdicou dessa prioridade pelo automobilismo. "Perdi muitos relacionamentos por ser piloto. O esporte a motor, com certeza, prejudica a vida pessoal". Fora das pistas, além da direção da empresa de propaganda, Helena é uma das instrutoras do BMW Driving Training, o curso de pilotagem da montadora alemã. "Boa parte do que ganho, gasto com o esporte, que é caro". Segundo Helena, nos últimos anos a entrada de patrocinadores na jogada amortizou seus investimentos. Mesmo assim, para ela, o automobilismo não é uma profissão rentável.
O combustível que une Bia, Sheren, Débora e Helena é o mesmo que faz delas, diferentes de boa parte das mulheres. Assim como muitas representantes do sexo feminino, são estudantes, executivas e artistas, esposas e mães. Mas têm na veia a febre da velocidade, que as leva a desafiar um universo rude e masculino. No corpo a corpo, muitas vezes perdem, outras vencem, mas saem sempre vencedoras. Vencedoras pois, em um mundo atribulado, conseguem a proeza de conciliar a prática do esporte, que exige dedicação integral e a complexidade de ser mulher.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial